Quais as novas diretrizes da NR-1 sobre a saúde mental dos trabalhadores?
- Alex Villar
- 29 de jul.
- 5 min de leitura
A discussão sobre saúde mental saiu do campo da sensibilização e entrou no campo normativo. A atualização da NR-1 (Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais), publicada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) por meio da Portaria MTE nº 1.419/2024, torna explícita a necessidade de identificar, avaliar e gerenciar riscos psicossociais nos ambientes de trabalho brasileiros. A mudança inicia a vigência normativa em 26 de maio de 2025, com fase orientativa e de adaptação que se estende em caráter educativo ao longo do ciclo seguinte, e com reforço de fiscalização progressiva até maio de 2026.
Por que a nova NR-1 muda a forma de olhar para a saúde mental no trabalho?
Mais do que uma alteração pontual, a nova redação da NR-1 reposiciona a saúde mental como componente estruturante da gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST).
Empresas de todos os portes precisarão ajustar processos de Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) e atualizar seus Programas de Gerenciamento de Riscos (PGR) para contemplar fatores como estresse organizacional, assédio, sobrecarga e condições psicossociais que afetam o bem-estar e a produtividade.
Panorama rápido: o que é a NR-1?
A NR-1 define bases comuns para todas as Normas Regulamentadoras, estabelecendo princípios, responsabilidades e diretrizes gerais para SST em qualquer organização que tenha trabalhadores regidos pela legislação trabalhista brasileira. Ela também delimita como o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) deve orientar a prevenção, articulando identificação de perigos, avaliação de riscos e medidas de controle.
No centro do GRO está o
, documento vivo que consolida o inventário de riscos e o plano de ação de controle e melhoria contínua. A NR-1 atualizada reforça a obrigação de manter o PGR estruturado, datado, assinado e disponível a trabalhadores, representantes e fiscalização.
Por que saúde mental entrou no texto da NR-1?
O avanço responde a uma combinação de fatores: aumento de diagnósticos relacionados a estresse, ansiedade e burnout no ambiente de trabalho; mudanças no modelo produtivo pós-pandemia (híbrido, remoto, sobrecarga digital); e pressão internacional por alinhamento a boas práticas de prevenção integral em SST.
A atualização da NR-1 amplia o olhar antes concentrado em riscos físicos, químicos e biológicos e passa a exigir que as empresas considerem como a organização do trabalho, metas, jornadas e relações hierárquicas podem adoecer.
O que são riscos psicossociais no contexto da NR-1?
Riscos psicossociais são fatores relacionados à forma como o trabalho é:
Planejado
Distribuído
Supervisionado
Vivenciado pelas pessoas no dia a dia
Esses fatores não são visíveis como um ruído ou uma poeira, mas impactam diretamente a saúde mental e a dinâmica organizacional.
Exemplos de riscos psicossociais comuns:
Metas inatingíveis ou pressão constante por desempenho
Excesso de horas ou jornadas imprevisíveis
Assédio moral, abuso de autoridade ou constrangimentos frequentes
Conflitos interpessoais não mediados
Isolamento social, especialmente em modelos híbridos ou remotos
Baixa autonomia para tomada de decisão
Desequilíbrio entre esforço exigido e reconhecimento oferecido
Falta de suporte, escuta ou direcionamento das lideranças
Por que esses fatores importam?
Quando esses riscos se tornam parte da rotina:
Aumenta a chance de estresse crônico e adoecimento emocional
Há queda perceptível na produtividade e no engajamento
Os índices de acidentes, absenteísmo e rotatividade tendem a subir
Mais do que impactos individuais, os riscos psicossociais sinalizam problemas estruturais na organização do trabalho. Por isso, a nova NR-1 exige que eles sejam mapeados, registrados e tratados com o mesmo rigor de outros riscos ocupacionais.
O que muda na prática para as empresas com a NR-1 atualizada?
A partir da vigência, os fatores psicossociais precisam ser tratados como qualquer outro risco ocupacional: devem aparecer no inventário de riscos do PGR, com caracterização do cenário, avaliação de severidade e frequência, identificação de grupos expostos e medidas de prevenção. Isso exige coleta estruturada de dados, participação dos trabalhadores e integração com ações de SST e RH.
Além disso, a nova abordagem reforça a necessidade de treinamento e capacitação de gestores e equipes para reconhecer sinais precoces, registrar ocorrências e atuar preventivamente, reduzindo passivos trabalhistas e impactos operacionais.
Indicadores: o elo entre conformidade e gestão inteligente
A norma exige que os riscos sejam identificados, avaliados e controlados; para fazer isso com qualidade, as empresas precisam transformar percepção em dado. Foi nesse ponto que
Dimas Facioli
chamou atenção, em entrevista à
, ao destacar que o monitoramento contínuo é o que permite enxergar tendências antes que elas se convertam em crises organizacionais:
“As empresas vão precisar trabalhar com indicadores e monitoramento, olhar o número de afastamentos, acompanhar a taxa de absenteísmo, presenteísmo e outros para poder olhar para esse panorama.”
O recado dialoga diretamente com o espírito da NR-1 atualizada, que pede abordagem sistêmica e documentada de riscos. Indicadores de absenteísmo, presenteísmo, afastamentos por saúde mental e rotatividade são dados críticos para alimentar o inventário de riscos, priorizar intervenções e medir impacto das ações de prevenção.
Métricas essenciais para integrar ao GRO e ao PGR
1. Taxa de absenteísmo total e por motivo
Monitore faltas justificadas e não justificadas, cruzando com atestados médicos, licenças psiquiátricas e setores com maior incidência. Altas variações podem sinalizar ambientes de trabalho sobrecarregados ou mal geridos.
2. Indicadores de presenteísmo
Produtividade menor com presença física é um sintoma silencioso de desgaste emocional. Questionários periódicos de saúde, autoavaliação funcional e análises de desempenho ajudam a tornar o fenômeno visível.
3. Afastamentos por CID relacionados a transtornos mentais
Registrar, classificar e acompanhar tendência por função ou área permite priorizar intervenções e justificar investimentos em programas de apoio psicológico ou redesign de trabalho.
4. Rotatividade voluntária e involuntária
Turnover elevado pode refletir clima tóxico, sobrecarga ou falta de suporte. Vincular dados de saída com fatores psicossociais ajuda a fechar o ciclo de gestão de risco.
Indicadores de clima psicossocial
Pesquisas internas sobre carga de trabalho, clareza de papéis, apoio da liderança e sensação de respeito são insumos qualitativos obrigatórios para contextualizar dados quantitativos no inventário de riscos.
Fase educativa: o que fazer agora para não correr atrás depois
Durante o período orientativo anunciado pelo MTE, a recomendação é não esperar a fiscalização. Use o intervalo para mapear lacunas, testar instrumentos de coleta de dados psicossociais e formar lideranças. Organizações que se antecipam chegam à data de fiscalização plena com cultura madura e documentação consistente, reduzindo risco de autuações e passivos.
Perguntas frequentes
O que acontece se eu não incluir riscos psicossociais no PGR após a vigência?
Ficar sem registro pode caracterizar descumprimento da NR-1 e expor a empresa a autuações em fiscalizações futuras, especialmente após o período educativo de transição.
Pequenas empresas também precisam se adequar?
Sim, a norma se aplica de forma ampla, embora microempreendedor individual tenha dispensas específicas em obrigações formais do PGR. Ainda assim, boas práticas de prevenção psicossocial são recomendadas porque reduzem afastamentos e custos.
Que tipo de dado preciso guardar como evidência?
Inventário de riscos atualizado, plano de ação, registros de treinamentos, evidências de comunicação interna e séries históricas de indicadores de saúde e produtividade. O MTE reforça disponibilidade documental a trabalhadores, representantes e inspeção.
Saúde mental, conformidade e vantagem competitiva
A atualização da NR-1 não é só uma obrigação legal. Ela oferece às empresas uma estrutura para transformar dados dispersos sobre afastamentos, clima e produtividade em inteligência de gestão preventiva. Ao incorporar indicadores psicossociais ao GRO e ao PGR, a organização protege pessoas, reduz custos invisíveis e fortalece sua reputação como empregadora responsável.
A fala do Dimas Facioli resume a mudança de mentalidade exigida: medir para enxergar, enxergar para agir. Se a sua empresa ainda não estruturou esse processo, este é o momento de começar.
Próximos passos com a Facioli Consultoria
A
Facioli Consultoria
apoia empresas na leitura estratégica da NR-1, criação de matrizes de risco psicossocial, desenho de indicadores, capacitação de lideranças e integração com políticas de pessoas e SST. Se quiser avançar, podemos montar juntos um roteiro de diagnóstico, priorizar dados que você já tem e desenhar um cronograma de adequação antes dos marcos de fiscalização.
Quer começar pelo diagnóstico de riscos psicossociais ou pelo painel de indicadores?



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